O PLANEJAMENTO DO SANEAMENTO NA AMAZÔNIA

Publicado em: 15/12/2021
Autor: Josué Rocha
Tempo de leitura: 3 minutos

Quem está interessado em planejar as ações e serviços de saneamento?

As reuniões vazias, quase sempre promovidas por governos, ensinam uma lição para todos nós planejadores: precisamos mudar o nosso jeito de ser, se quisermos que o povo participe do planejamento do saneamento na Amazônia. O modelo transacional de planejamento não dá conta de reunir as pessoas para discutir o saneamento, ele não consegue nem mesmo identificar os atores sociais relevantes.

Será que alguém se interessaria pela elaboração de um plano municipal de Saneamento não oficial? E o governo local conseguiria apoiar um plano como esse?

Quando faremos um diagnóstico técnico participativo que revele, com clareza, a realidade do saneamento em pelo menos uma cidade paraense.

O que vem bloqueando o nosso poder criativo, e nos limitando a condição de meros replicadores de alternativas de saneamento impróprias para os municípios da Amazônia?

Quem deseja profundamente contribuir com a construção de uma cultura de planejamento do saneamento ambiental na Amazônia?

Acredito que o planejamento do saneamento interessa a certas prefeituras, que podem apoiar os planejadores dando a eles o acesso a informação.

O planejamento do saneamento em uma escala municipal também interessa as instituições de ensino que podem contribuir com seus conhecimentos e ao mesmo tempo aprender com esse desafio do mundo real. As escolas precisam envolver seus alunos nessa tarefa redentora. Ademais, em que outro ambiente os alunos dos cursos técnicos e de engenharia poderiam ser melhor treinados para o exercício de suas profissões? As habilidades e competências exigidas pelos mercado de trabalho só poderão ser desenvolvidas no trabalho, que pode ser voluntário.

Certamente o planejamento dos serviços de saneamento interessa a todos os habitantes de cada um dos municípios de todas as regiões do Brasil, com destaque para a região norte que padece mais com a falta desses serviços.

As pessoas que moram na Amazônia tem mais motivos para participar do planejamento do saneamento: a falta de água segura para consumo humano, o esgoto escoando a céu aberto, os lixões e os alagamentos nas cidades.

O planejamento do saneamento interessa a Associação Brasileira de Engenharia sanitária e Ambiental (ABES), pois é parte da sua missão, que objetiva contribuir para o desenvolvimento do saneamento ambiental.

O planejamento não oficial do saneamento é um processo de transformação cultural, inevitável, que tem o potencial de reunir as condições para a elaboração do Plano Municipal de Saneamento Básico (PMSB) exigido pela legislação brasileira.

Me orgulho verdadeiramente do que consegui fazer até agora em relação ao planejamento do saneamento nos municípios paraenses, apesar dos entraves políticos, da falta de recursos, da escassez de tempo. Iniciei minha carreira de planejamento como funcionário público em uma Prefeitura do Marajó. Depois fiz parte de um grupo de pesquisa da UFPA, de uma ONG, assim como de inúmeras organizações públicas e privadas até criar a minha própria empresa de consultoria.

Mas sempre procurei um lugar que me possibilitasse atender livremente ao desejo da minha alma de servir. Um lugar para exercitar a minha humanidade e voltar os meus talentos para os outros, sem os limites da contratação formal, financiado pela firme compreensão do propósito da vida. Um lugar onde todos os riscos e as incertezas da interação humana são simplesmente aceitos. Em parte criei esse lugar, e nesse trabalho compreendi que o todo é uma associação que se manifesta quando partes diferentes se juntam para fazer algo que não pode ser feito individualmente.

Penso que a ABES pode se tornar a manifestação de toda a vontade dos missionários do saneamento na Amazônia.

Continuo acreditando que o saneamento deve vir do povo, e por isso devemos concentrar esforços na formação popular.

Tenho mais perguntas o que respostas. As minhas dúvidas superam, em muito, as poucas certezas que tenho guardadas em meu coração.

Uma parte de mim se cansou de tentar, mas a outra parte está determinada a fazer pelo menos mais 144 vezes.

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